Publicado em: Dezembro/2007

por Eduardo Vasconcellos


Segundo a ciência, o Big Bang que causou o surgimento do universo gerou uma quantidade enorme de energia que se expandiu dando origem às galáxias. A energia pura que emergiu dessa grande explosão inicial foi acelerada a velocidades muitas vezes superiores a da luz, de tal maneira que, os quanta (quantidade indivisível de energia eletromagnética) dessa energia adquiriram acelerações proporcionais às suas distâncias ao centro da explosão. De acordo com o astrônomo alemão Günter Hasinger, “o Big Bang ainda está ocorrendo. Pois o cosmos continua se expandindo, as galáxias continuam se acelerando e se afastando umas das outras. A razão para tal é, justamente, essa energia escura, uma espécie de força repulsiva. Ela também existe onde não há ‘nada’. O que classificamos como ‘nada’, por exemplo, o que havia antes do universo, é, mesmo assim, cheio de energia, que borbulha no nada, sem cessar”.

Por outro lado, outros cientistas acreditam que essa aceleração tende a diminuir até chegar o dia em que será interrompida. Esse fenômeno físico é explicado pela entropia, segundo a qual na maioria dos sistemas, a energia tende a ser dissipada de tal modo que a energia total utilizável se torna cada vez mais desordenada e mais difícil de captar e utilizar. A entropia tende a aumentar com o passar do tempo. Isto é baseado no fato de que há uma quantidade limitada de energia livre em qualquer sistema fechado, e uma vez que uma energia é usada para fazer trabalho (e deste modo produzir ordem) torna-se inacessível para qualquer trabalho futuro (e, portanto, a ordem produzida tende a colapsar com o passar do tempo). Quanto ao universo, é de se esperar que dentro de muito, muito tempo encontre também o seu fim quando a desordem atingir o seu auge. Chegará um tempo em que não poderá haver mais desordem e o universo permanecerá estático, sem que nada aconteça, já que a desordem não pode aumentar. Isto é o que se chama correntemente de “envelhecimento do universo”. 

As mesmas fontes científicas afirmam também que o homem é o resultado de um processo evolutivo desencadeado a partir dessa explosão e que com o passar do tempo, através da chamada seleção natural, as espécies evoluíram, aperfeiçoando-se. Um dos críticos mais ferrenhos dessa teoria, o advogado e professor de direito norte-americano Phillip Johnson, em seu livro Darwin on Trial – para o qual remetemos nosso navegador, entre outras conclusões, afirma: “a seleção natural com que os darwinistas pretendem explicar a sobrevivência de novos organismos é, na verdade, uma força conservadora que trabalha para preservar a aptidão genética de uma população, e não para mudar as suas características”.

Há uma contradição evidente no discurso da ciência quando se refere ao processo evolutivo e que não se assimila facilmente. Como o homem pode estar evoluindo num universo que está se deteriorando? Ou a terra e o universo evoluem com o homem ou, do contrário, o homem se deteriora junto com seu habitat. Durante muitos anos essa incoerência tem sido o calcanhar de Aquiles da ciência, que tem teimado em confundir os seus alunos mais ávidos. 
Esse contra censo decorre das falhas existentes no discurso científico ao não considerar a existência de uma força superior capaz de proporcionar a ocorrência do Big Bang e ao atribuir uma explosão dessa magnitude simplesmente ao acaso. Porque, ainda que a Segunda Lei da Termodinâmica esteja correta quanto ao estado de decomposição do universo, a teoria como um todo é carente de um sentido, uma justificativa. Com que propósito uma série de galáxias seriam criadas a partir do nada, do caos de uma explosão, e entrariam em estado de autodestruição? Como se explica que dessa explosão surja ainda um planeta singular onde exista vida pela presença de uma atmosfera totalmente diferente do restante do universo?

Essas questões podem ser amenizadas ao considerar-se a existência do homem nesse planeta uma vez que o estudo das leis e dos fenômenos naturais que ocorrem no universo não foi suficiente para produzir uma justificativa satisfatória. No entanto, para considerar a presença do homem não podemos faze-lo através da ciência, pois, como já mencionamos, o seu argumento é desconexo. Poderíamos buscar auxílio na filosofia, pois também os filósofos arriscaram um salto da cosmologia para antropologia numa tentativa de apurar seus argumentos. Esbarraríamos, porém, nas insolúveis respostas que ora se voltaram para o panteão mitológico ora para o próprio indivíduo, sem lograr harmonizar integralmente a sua relação com o universo. 

Isso porque a filosofia, e refiro-me aqui a filosofia aristotélica e tomista, delimitou as considerações sobre o homem e as suas virtudes morais, ou seja, ela reconhece na existência humana um Fim supremo que estaria intrinsecamente ligado ao Bem absoluto do homem, fornecendo regras de conduta humana na ordem natural, procurando encontrar uma beatitude natural. Todavia, se os seus atos visam atingir um fim sobrenatural, a ética filosófica, segundo o filósofo francês Jacques Maritain, “é evidentemente insuficiente para ensinar-lhe (ao homem) tudo o que deve saber para bem agir. Deve ser completada e superelevada pelos ensinamentos da revelação”.

Assim, nos encontramos num exercício de autotranscedência, que segundo a definição de Batista Mondin, historiador e filósofo italiano, consiste no movimento que o homem realiza para atingir sua própria superação, naquilo que ele pensa, quer, realiza, adquire, etc. Desse modo, contemplamos a lacuna deixada pela filosofia e a sua expectativa de que esta seja preenchida pela revelação. Ora, não há outra revelação capaz de satisfazer todas essas incógnitas simultaneamente que não esteja contida nas escrituras sagradas. Isto é confirmado pelo teólogo alemão Karl Rahner, que afirma: “o homem é o ente que, na sua história, deve dirigir a sua atenção para uma eventual revelação histórica de Deus através da palavra humana”, porque nessa abertura transcendental do ser humano, isto é, nessa busca incessante pelas respostas necessárias para satisfazer as suas indagações, ele encontra na Palavra da revelação o lugar da sua realização mais adequado. 

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Há dois fatores preponderantes aqui: primeiro, a afirmação de que a revelação está contida na Palavra de Deus revelada ao homem e segundo, o fato dessa revelação ser histórica. É a junção desses dois elementos que possibilita preencher a brecha que a filosofia não logrou tapar. A revelação dada ao homem por Deus é completa em seu sentido e na sua direção, ou seja, ela revela como Deus criou o homem e a terra, para que os criou e a palavra profética revela ainda o que acontecerá no fim dos tempos. 

O relato bíblico da criação parece simples demais para ser creditado a uma formação tão complexa como é o universo, a terra, o homem, tudo o que conhecemos, enfim. No entanto, devemos considerar que Deus, nosso criador, é espírito. Segundo o missionário batista A. Langston, “um espírito capaz de dar existência a um universo tal como o que contemplamos não o faria sem ter em vista um mui grande propósito. A ordem, a unidade, a uniformidade que notamos no universo inteiro testifica deste grande propósito do seu Criador. Certamente há um alvo, por Deus fixado, e para esse alvo caminha o universo inteiro”. 

Uma vez que a revelação contém atributos morais e espirituais, é razoável esperar que este fim que se espera tenha um desfecho moral e espiritual. Dito de outra maneira, quando advir o fim material do universo, quando o céu desaparecer como fumaça e a terra se envelhecer como roupa, ai se dará a coroação moral e espiritual do homem, pois quando Deus criou o homem, ele o comissionou, lhe deu responsabilidades e um caminho a ser seguido para que, após a sua vida terrena, ele possa ser alvo da justiça divina e receber a eternidade, como fruto da sua promessa. 

A segunda epístola de Pedro é bastante clara com relação a esse tema. Inicialmente o apóstolo afirma que “eles voluntariamente ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus, e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste” (3.5), referindo-se àqueles que não creem na revelação bíblica. Logo adiante, sobre o futuro reservado à terra, escreve: “mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios” (3.7). Finalmente, quanto ao porvir do homem, Pedro diz: “mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça” (3.13).

Ele concorda com o profeta Isaías, o mesmo que já no século VII antes de Cristo afirmara ser a terra um globo (Is 40.22) e que predisse: “como os novos céus e a nova terra que hei de fazer, estarão diante da minha face, diz o Senhor, assim também há de estar a vossa posteridade e o vosso nome” (Is 66.22).

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