Publicado em: julho/2016

por Eduardo Vasconcellos

A pouco mais de um ano o físico brasileiro Marcelo Gleisler publicou o livro A Ilha do Conhecimento, no qual ele admite que a despeito dos avanços científicos nunca achamos soluções para as dúvidas primordiais: por que tudo existe, por que pensamos, por que estamos aqui. Gleisler afirma que quanto mais se acumulam teorias ou inovações tecnológicas e científicas, maior a sensação de andar em círculos, daí o nome Ilha. O oceano que rodeia é todo o desconhecido. Isso não deixa de ser um paradoxo devido ao fato de vivermos dias que se passam em plena era da informação, onde o acesso ao conhecimento e a conteúdo privilegiado deveria fazer diferença. Parece que não. Aliás, parece que aqui também cai por terra uma visão de que o tempo seria parceiro da ciência na expectativa de que os mistérios do Universo fossem devidamente desvendados.

Nada disso. O homem andou em círculos e chegou ao ponto de partida. Continua com as mesmas interrogações e já não precisa de mais teorias ou de mais tempo para perceber isso. Não precisa de novos modelos econômicos – isso também ficou pra trás depois de que Fukuyama publicou O Fim da História (1992) e sustentou que o liberalismo econômico seria o ápice da evolução econômica da sociedade contemporânea. Esta viria acompanhada da democracia e da igualdade de oportunidade e todos seriam livres e capazes de conquistar os seus objetivos. Vivemos ou viveremos tais tempos? Provavelmente nunca. Seus críticos dizem que a História venceu a Economia.

Ciências são cheias de teorias e nesse universo bem poucas são exatas. Quem responde à pergunta sobre quem é o verdadeiro autor da História. É o narrador, o protagonista ou o coadjuvante? Será que Le Goff ajudaria e esclarecer o significado de uma História Nova, sem que esta também sucumba no meio da crise epistemológica das Ciências Sociais? Poderá ser o seu autor aquele que determinou para que lado a terra gira? Quem sabe aquele que a fez mover-se desde o início e que estabeleceu o dia e a noite para sobrevivência humana? Talvez este autor se ria de uma humanidade tão perdida em vaidade e a procura de poder. Pensará: agem assim porque não conhecem aquele que tem todo o poder.

Vivemos dias semelhantes aos de cem anos atrás quando o Homem de Nebraska foi chamado como evidência do evolucionismo num julgamento que mobilizou os EUA. O julgamento do macaco – como ficou conhecido popularmente, resultou na condenação do professor John Scopes por ter descumprido o Ato Butler[i], que proibia o ensino do evolucionismo nas escolas públicas de lá. O dente do Homem de Nebraska foi arrancado da História quando alguns anos depois se constatou que tudo era uma falácia, mas isso não impediu que antes vários cientistas se debruçassem sobre o achado defendendo sua veracidade. Construíram teorias, publicaram trabalhos científicos, envolveram a comunidade internacional até que perceberam que a única evidência que tinham os levara a conclusão que se tratava de um porco selvagem.

A História é implacável!

Da mesma maneira como o uso daquele ancestral fictício foi feito a partir de uma falsa ciência, de uma falsa evidência, vemos e ouvimos hoje os apelos pseudocientíficos de um corpo de acadêmicos que se propõem a desconstruir o gênero humano com a convicção de que a Biologia e a Medicina nada mais aportam à anatomia e à fisiologia humanas. Na sua ignorância e insensatez andam de encontro à própria vida, como um ser que imagina que a sua capacidade de viver e sobreviver está nele mesmo ou somente na sua cultura. Baseados nas ideias de pensadores como Judith Butler, para quem é necessário quebrar a dicotomia sexo e gênero, procuram subverter uma suposta ordem androfalocêntrica da sociedade e afirmam que é a repetição de atos, gestos e signos, do âmbito cultural, que reforçam a construção dos corpos masculinos e femininos tais como nós os vemos atualmente.

Assim, sem nenhuma base empírica, desconsideram verdades de outros campos do saber e negam os atributos invisíveis daquele que não sofre a ação do tempo porque está acima dele e ignoram aquilo que desde o princípio foi desvendado nos céus e na terra. Por isso tais homens e mulheres – na verdade são mais mulheres (feministas) do que homens – são indesculpáveis: tiveram todo o conhecimento, no entanto insistiram em mudar a verdade e negar aquilo que é naturalmente aceito para satisfazer o próprio ventre. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos, obscurecendo-lhes o coração insensato.

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Tal é a discussão que se propõe sobre Ideologia de Gênero nas escolas que, no afã, seus propositores argumentam o combate à violência mas não atentam para a idade de seus interlocutores e as feridas que podem lhes causar. Saem de seus santuários acadêmicos em direção ao pátio da escola para transformá-lo no laboratório perfeito para suas mais perversas e insanas experiências acreditando que travam uma luta quixotesca contra um inimigo invisível quando na verdade se enfileiram ao lado daquele que foi arremessado nas nuvens como um raio por causa da sua soberba e da sua arrogância.

É quando vemos aqueles que foram feitos à imagem e semelhança do nosso Autor, numa dualidade transcendental de matéria e espírito – corpo e alma, criados para exaltá-lo e dar testemunho de suas obras maravilhosas, e percebemos que sua projeção foi corrompida. Com a depravação da vontade, a liberdade distanciou-se da virtude e, em vez de estarem sob o comando do mestre indulgente, sujeitam-se sob o comando de um tirano impiedoso. E ao invés de serem benção para o restante da criação – por meio da mediação de graças e benefícios –agora converteram-se em maldição.

Por causa disso foram entregues a uma disposição mental reprovável e, como um feroz algoz de si mesmo, se esmeram no uso de seu intelecto continuamente para praticar coisas inconvenientes, coisas cheias de iniquidade, fornicação, malícia, avareza, maldade, inveja, homicídio, contenda e engano. Na sua presunção cega ferem aqueles que são menos afeiçoados ao seu comportamento maligno e estão desatentos para suas artimanhas, aqueles vulneráveis, que se tornaram presas fáceis e são martirizadas em nome de ideologias sem fim.

Mas aquele que é o autor e o consumador da vida, da fé e da História se rirá desses tais no dia que ele perguntar a cada um pelas suas obras. Nesse dia, até quem consentiu e aprovou o estabelecimento de toda maldade será responsabilizado com austeridade. Porque esse dia se manifestará e será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta, para que seja abatido. E a arrogância do homem será humilhada pois atentou contra o que é eterno. Contudo, haverá esperança para o humilde e piedoso que reconhece que o verdadeiro e justo disse que numa mesma casa há vasos para honra e outros para desonra e deixou escrito para aqueles que têm expectativa do juízo que sob eles nascerá o sol da justiça trazendo cura em suas asas. Porque então ele dará uma linguagem pura aos povos, para que todos o invoquem. E todos esses que restarem serão purificados e levarão a imagem do celestial.

Como afirmei acima, a ciência é feita com base em teorias e embora a ciência seja um processo contínuo de descoberta e revisão, algumas teorias científicas ao longo da história foram propostas e, posteriormente, não foram confirmadas por evidências empíricas e foram descartadas. Por exemplo, o Lamarckismo, proposto por Jean-Baptiste Lamarck, no início do século XIX, foi uma teoria que sugeria que as características adquiridas durante a vida de um organismo seriam passadas para a próxima geração. No entanto, a teoria de Lamarck foi refutada pela descoberta da genética e da hereditariedade mendeliana.

No século XIX também acreditava-se que o espaço estava preenchido por um meio chamado “éter” que permitia a propagação das ondas eletromagnéticas. No entanto, a Teoria do Éter foi refutada por experimentos como o de Michelson-Morley que mostraram que o éter não existia e que as ondas eletromagnéticas se propagam através do vácuo. A Teoria da Abiogênese propunha que formas de vida poderiam surgir espontaneamente a partir de matéria inanimada. No entanto, experimentos como o de Louis Pasteur no século XIX demonstraram que a vida só surge a partir de vida preexistente, refutando a ideia da abiogênese.

Outra tese, a Teoria da Geração Espontânea previa que seres vivos mais complexos podiam surgir espontaneamente a partir de matéria não-viva. Isso foi antes da descoberta da reprodução sexual e da compreensão dos processos de fertilização e essa ideia foi refutada por cientistas como Francesco Redi e Louis Pasteur, que demonstraram que a vida não surge espontaneamente, mas sim através de processos de reprodução.

É importante ressaltar que essas teorias foram refutadas com base em evidências científicas e em experimentos cuidadosamente conduzidos. A ciência avança por meio do questionamento e da revisão constante de teorias, à medida que novas evidências e conhecimentos são obtidos.

Mas o problema que enfrentamos com a teoria de gênero é mais grave pois trata-se de um verdadeiro laboratório social de seres humanos. A cada dia vem à tona casos como o drama brutal dos gêmeos canadenses Reimer, uns dos primeiros mártires conhecidos dessa ideologia cujos resultados práticos são escandalosamente antinaturais. Casos como o de Lea T, nascido Leandro Cerezo – filho de Toninho Cerezo, que se arrependeu da cirurgia de readequação sexual feita na Tailândia após 4 anos e hoje tem uma vida indefinida e angustiada. Tais cirurgias são, na verdade, mutilações realizadas nos órgãos genitais e não deveriam ser consideradas condutas médicas adequadas para tratar a disforia de gênero que ocorre quando o gênero não segue o sexo, torna-se disfuncional e provoca sensação de mal-estar, de desconforto, de ansiedade, e de depressão constante, ou seja, isto é uma doença conhecida e deve ser tratada por profissional da área médica habilitado.

A OMS reconhecia a disforia de gênero como uma doença classificada na CID 10 pela sigla F 64 – transtorno de identidade sexual, transtornos de identidade sexual na infância, transexualismo e travestismo, inclusive. Porém, na CID 11 publicada em junho de 2018, houve uma mudança e a disforia foi retirada do capítulo de doenças mentais. Com a mudança, o termo passou a ser chamado de incongruência de gênero, e está inserido agora no capítulo sobre saúde sexual. A nova classificação acontece 28 anos depois da decisão de retirar o termo homossexualidade da lista de doenças, em maio de 1990. Segundo a OMS, existem evidências de que a incongruência de gênero não se trata de um transtorno mental, mas que ainda “há a necessidade de garantir atendimento às demandas específicas de saúde da população trans”, o que explica o fato de o termo não ter sido retirado totalmente da CID.

Concluindo, a incongruência de gênero não deixou de ser uma anomalia apesar de estar classificada em outro capitulo da CID e ter sua nomenclatura modificada. Esse avanço da OMS deixou mais vulnerável as pessoas que sofrem desse transtorno porque não existe um protocolo de tratamento definido. O acompanhamento por profissional terapeuta, psicólogo ou psiquiatra – via de regra, tem sido para conformação na doença ou preparo para cirurgia de readequação sexual e não há suporte adequado ou permitido para quem deseja alinhar o seu sexo com o seu gênero, seguindo uma terapia natural.

Por isso, diante de evidências tão óbvias que nos mostram o perigo de manter o avanço dessas práticas antinaturais, a ciência e a história clamam por atenção e prudência porque estamos diante de um laboratório cujos resultados são nefastos e comprometem a própria espécie humana.


[i] A lei que ficou conhecida como o Butler Act, em homenagem ao político John W. Butler, foi sancionada em 1917 e proibia o ensino do evolucionismo nas escolas públicas dos EUA.

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