Publicado em: Março/2008
por Jerold Aust
A Páscoa é uma das celebrações religiosas mais populares do mundo. Mas, ela está realmente baseada na Bíblia? Meditemos no seguinte por um momento: esta festa é um dos feriados religiosos mais importantes para os cristãos, mas em nenhuma parte da Bíblia nem no livro de Atos dos Apóstolos, que abrange várias décadas de história da Igreja Primitiva, nem em nenhuma das epístolas do Novo Testamento, escritas ao longo de 30 a 40 anos depois da morte e ressurreição de Jesus Cristo, vemos que os apóstolos ou os primeiros cristãos tenham celebrado algo semelhante à “Páscoa Florida” ou à “Páscoa de Ressurreição”. [1]
Os evangelhos mesmo parecem ter sido escritos desde aproximadamente uma década depois da morte e ressurreição de Jesus até uns sessenta anos mais tarde (no caso de João). No entanto, em nenhum deles encontramos a menor alusão a uma celebração que se assemelhe a Páscoa Florida. Si a Páscoa Florida não provém da Bíblia nem foi celebrada por nenhum dos apóstolos, de onde ela provém?
A assombrosa origem da Páscoa Florida
No Dicionário do Novo Testamento do lexicógrafo W.E.Vine, encontramos a seguinte definição do termo Páscoa: “Pascha, a transcrição grega do termo aramaico para a Páscoa, do hebraico pesach, passar por cima, saltar, é uma festa instituída por Deus em comemoração da libertação de Israel do Egito, e antecipando o sacrifício expiatório de Cristo….
A festa da Páscoa celebrada pelos cristãos nos tempos pós-apostólicos era uma continuação da festa judia, mas não foi instituída por Cristo, nem estava relacionada com a Quaresma. A festa pagã em homenagem a deusa da primavera, Eástre (outra forma do nome Astarte, um dos títulos da deusa babilônica, a rainha dos céus), era totalmente diferente daquela Páscoa; mesmo assim, a festa pagã conseguiu introduzir-se na apóstata religião ocidental sob a forma de páscoa, como parte da tentativa de adaptar as festas pagãs no seio da cristandade.
É certo que em inglês recebe o nome de Easter, derivado de Eastre, o que evidencia a verdadeira origem pagã da chamada páscoa cristã, que não coincide no tempo com a páscoa judia.” Ou seja, a versão moderna desta festa não tem origem bíblica, senão que se deriva do culto a Astarté, uma deusa caldéia (babilônica) conhecida com a “rainha dos céus”. Ela é mencionada por este mesmo nome na Bíblia, no livro de Jeremias 7:18 e 44:17-19,25.
Também no livro de 1 Reis 11:5 e 2 Reis 23:13 há referências a Astarote, a versão hebraica de seu nome. É parte da mesma religião que Deus condena. Os primeiros cristãos, inclusive depois da era apostólica, continuaram observando uma variante da festa bíblica da Páscoa (sua diferença radicava no novo simbolismo introduzido por Jesus; ver, por exemplo, Mateus 26:26-28 e 1 Coríntios 11:23-28, textos que fazem referência à Santa Ceia, onde o pão e o vinho simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, respectivamente).
A Páscoa Florida era muito diferente da Páscoa do Antigo Testamento e do Novo Testamento tal com a entendia e praticava a Igreja Primitiva, a qual se baseava nos ensinamentos de Jesus e dos apóstolos. Assim, a Páscoa Florida era um festival pagão cujas raízes se originavam na adoração a outros deuses.
Símbolos Pré-Cristãos
A Enciclopédia Católica, no seu artigo Páscoa, diz o seguinte: “O termo inglês para Páscoa, Easter, segundo Beda o Venerável (monge do século oitavo), se relaciona com Estre, uma deusa teutônica da luz nascente do dia e da primavera, deidade, no entanto, que é por demais desconhecida…” (http://www.enciclopediacatolica.com/p/pascua.htm)
Estre é o antigo nome europeu que se dava a mesma deusa venerada pelos babilônios, Astarté ou Istar, deusa da fertilidade, cuja celebração mais importante se dava na primavera (no hemisfério norte). No mesmo artigo e sob o subtítulo “Ovos de Páscoa”, lemos que “o costume pode ter sua origem no paganismo pois uma grande quantidade de costumes pagãos, que celebravam o retorno da primavera, foram introduzidos na Páscoa”. O subtítulo “Coelho de Páscoa” afirma: “o coelho é um símbolo pagão e sempre foi um emblema da fertilidade”.
No livro Catholic Customs and Traditions, o escritor Greg Due explica em detalhes o simbolismo do ovo nas antigas culturas pré-cristãs. “O ovo se converteu num símbolo muito popular da Páscoa Florida. Os mitos sobre a criação de muitos povos da antiguidade se baseiam num ovo cósmico que deu origem ao universo”. Nos antigos povos do Egito e da Pérsia os amigos trocavam ovos decorados no equinócio da primavera, isto é, no começo de um novo ano.
Estes ovos eram para eles um símbolo da fertilidade, pois muito se admiravam que saísse uma criatura viva do interior de um ovo. Os cristãos ocidentais adotaram esta tradição e o ovo de páscoa passou a ser um símbolo religioso. Chegou a representar o sepulcro do qual emergiu Jesus (Costumes e Tradições Católicas, 1992, p. 101). O mesmo autor explica que assim como o ovo, o coelho foi associado à Páscoa Florida por simbolizar poderosamente a fertilidade: “com frequência as crianças aprendem que são os coelhos que trazem os ovos.”
O que estas fontes nos dizem é que a cristandade substituiu o significado da Páscoa Bíblia e da Festa dos Pães Asmos por coelhos e ovos, símbolos pagãos da fertilidade. Tais símbolos desvirtuam e ocultam a verdade sobre a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
A Páscoa Florida se impõe
No entanto, a história não termina aqui. Na realidade, muitas fontes confiáveis confirmam que a Páscoa Florida se converteu num festival que substituiu as celebrações bíblicas da Páscoa e da Festa dos Pães Asmos. A Enciclopédia Britânica diz que “não há indícios da celebração da Páscoa Florida no Novo Testamento, nem nos escritos dos pais apostólicos…. os primeiros cristãos continuaram celebrando as festas judias, ainda que com um espírito renovado, como comemorações dos eventos que representavam estas festas…
Por outro lado, os cristãos gentios, livres das tradições judias, identificaram o primeiro dia da semana (domingo) com a Ressurreição, e guardaram a sexta-feira que o precedia como comemoração da Crucificação, sem ter em conta o dia do mês”. Foi assim que a Páscoa Florida, um festival pagão com seus correspondentes símbolos pagãos de fertilidade, substituiu as festas ordenadas por Deus e que foram celebradas tanto por Jesus como pelos apóstolos e a Igreja Primitiva. Mas isto não aconteceu da noite para o dia; esta prática somente se consolidou três séculos depois, no ano 325 d.C..
Lamentavelmente, não foi edificada sobre alicerce bíblico senão sobre as bases do antissemitismo e do poder eclesiástico e imperial. Como explica mais detalhadamente a Enciclopédia Britânica, “uma das razões que levou Constantino (o imperador romano) a convocar o Concílio de Nicea em 325 foi a de alcançar um acordo definitivo sobre a disputa (si se deveria guardar a Páscoa Florida ou a bíblica)…
A decisão unânime foi que a Páscoa deveria celebrar-se um domingo e o mesmo domingo em todo o mundo e que ninguém deveria ‘imitar a cegueira dos judeus’”. Aqueles que continuaram celebrando as mesmas festas bíblicas que celebraram Jesus e seus apóstolos em vez do festival “cristianizado” recém criado, foram sistematicamente perseguidos pela poderosa aliança entre a Igreja e o Estado, sob o imperador Constantino. Este festival da Páscoa Florida logo se tornou uma das festas mais populares do cristianismo tradicional.
A influência do paganismo
O historiador britânico James Frazer menciona como a Páscoa Florida e seus rituais entraram na igreja romana estabelecida, junto a outros costumes e celebrações pagãs: “Tomadas juntamente as festas pagãs e as festas cristãs vemos como têm coincidências muito estreitas e muito numerosas para considerá-las meramente acidentais; elas mostram a aliança a que se viu obrigada a Igreja na hora de seu triunfo sobre as demais rivais vencidas (as outras religiões que competiam com o cristianismo dentro do Império Romano), mas ainda perigosas.”
Assim, “o inflexível espírito de protesto dos missionários primitivos, com suas ferozes denúncias do paganismo, foi tornando-se em conduta flexível, tolerância cômoda e compreensiva caridade dos eclesiásticos solapados que perceberam claramente que para que o cristianismo conquistasse o mundo seria preciso atenuar as regras muito rígidas de seu fundador, alargando a porta estreita que conduz à salvação”.
Em resumo, para aumentar e ampliar o atrativo da nova religião “cristã” dos primeiros séculos, as poderosas autoridades eclesiásticas romanas, com o apoio do Império Romano, simplesmente adotaram os rituais e as práticas das religiões pagãs, as rebatizaram como “cristãs” e criaram um tipo de cristianismo completamente novo, com costumes e ensinamentos diametralmente opostos aos ensinados pela Igreja que Jesus fundou.
O cristianismo autêntico da Bíblia quase desapareceu por completo e foi forçado à clandestinidade pela perseguição, pois seus seguidores se recusaram compactuar com o sistema vigente. A Páscoa Florida não representa fielmente o sofrimento, a morte e a ressurreição de Cristo, ainda que assim considerem os que aceitam as tradições religiosas cegamente.
Muitos dos que professam ser cristãos podem fazer-se essa pergunta ao deparar-se com esses fatos a respeito da Páscoa: com tantos milhões de cristãos bem intencionados, por que Deus não se compadeceria? No entanto, Jesus já deixou resposta a essa pergunta em Mateus 15:9, onde, referindo-se a seu Pai, disse: “em vão me honram, ensinando doutrinas e mandamentos de homens”. Como você quer adorar a Deus: em espírito e em verdade (Jo 4:23) ou segundo fraudes e fábulas?
Traduzido por Eduardo Vasconcellos
[1] O autor utiliza os termos “Florida” e “Ressurreição” para mencionar os nomes como é conhecida a festa da Páscoa em alguns países. Aqui no Brasil, a festa chama-se simplesmente Páscoa, porém os símbolos utilizados – coelhos, chocolates e ovos coloridos, características que contrariam a Bíblia, estão presentes em lugar de destaque. [Nota do Tradutor].
“Reproduzido com permissão. Publicado pela Igreja de Deus Unida, uma Associação Internacional. © 2011 Igreja de Deus Unida www.ucg.org. Este artigo não é para ser vendido. É um serviço educacional de interesse público. O artigo original pode ser lido na edição de Março/Abril de 2006 e no endereço http://www.gnmagazine.org/issues/gn63/easter.htm”.”