Publicado em: Julho/2008

Entrevista concedida por Russel Shedd a Eduardo Vasconcellos, em Maceió

JOF – Nos últimos anos o sr. tem dado ênfase à necessidade de santificação da Igreja e pregado sobre os incentivos que encontramos na Palavra de Deus para o cristão manter-se firme diante das provações e tentações evitando o pecado. Isso poderia ser considerado uma resposta à teologia da prosperidade que é pregada hoje?

 RS – Bem, que dizer, uma alternativa. Não sei se seria uma resposta porque realmente são propostas distintas. Quem está procurando santidade está procurando a Deus, porque Deus é santo. Quem está buscando prosperidade está buscando uma vida melhor aqui na terra, então, são realmente duas direções bem opostas.

O sr. acha que a igreja protestante brasileira é uma igreja mais voltada para o seu interior e alheia às causas políticas e sociais, em contraste com a igreja católica notadamente mais atuante inclusive com a presença de lobby no Congresso Nacional?

Eu acredito que sim, em geral. Ainda que tenham alguns ramos da Igreja brasileira que são muito interessados em assuntos políticos, especialmente para ganhar uma cadeira lá no Congresso, como deputado ou senador. Quer dizer, talvez seja mais busca pelo poder e o dinheiro que vem por trás do que realmente uma preocupação com a situação social.

 Seria mais um interesse particular do que uma causa social ou ideológica, certo.

 Correto.

 Nós temos observado pelo menos aqui em Maceió que a liderança eclesiástica ultimamente tem buscado apoio nas ciências humanas, principalmente na psicologia, para lidar com o seu rebanho. Como o sr. analisa esse movimento.

Editora Sal Cultural - Coleção Grandes Temas da Teologia

 Eu não favoreço muito a essa direção, me parece uma maneira de fugir da Palavra de Deus e da orientação bíblica. Quando a gente não está realmente estudando a Palavra e a Palavra perde a sua autoridade a gente procura outros meios de controlar e direcionar o rebanho. Então me parece que esse é o modo que tem sido escolhido não somente no Brasil, mas fora do Brasil também, buscando na psicologia e na sociologia meios de fazer a Igreja crescer, meios de satisfazer as necessidades que o povo sente.

 A experiência histórica demonstra que os grandes avivamentos que culminaram com o surgimento de várias igrejas tradicionais foram fruto de reuniões de oração. Qual o caminho para o verdadeiro avivamento bíblico ou histórico? É correta a expectativa de um grande avivamentos nos últimos dias?

 A bíblia coloca avivamento com resposta a oração sim e também humilhação. Enquanto não há humilhação, enquanto não há um arrependimento, há muita atenção a orgulho e vantagens materiais eu acho que o avivamento vai demorar bastante. Mas quando há humilhação, quando há jejum e oração a gente pode esperar sim um avivamento, pois um coração quebrantado Deus não despreza de forma alguma.

 E para os últimos dias, é correta a expectativa de um grande avivamento a nível mundial ou a nível nacional como muitos esperam?

Depende de aparecer o anticristo, porque nesse caso eu acho que vai dar muito avivamento, porque a perseguição promove uma busca muito maior pelo Senhor. Quando a gente perde a esperança para esta vida a gente começa buscar esperança para a vida futura e no Senhor, então essa purificação da Igreja é consequência de grande perseguição como houve na igreja primitiva como houve também em outras épocas da Igreja, como está acontecendo na China, Coréia, Vietnã, de certo modo na Índia também, Nepal, naqueles países onde é muito, muito custoso ser crente.

Já estamos vivendo os últimos dias? Caso afirmativo, quais são os sinais que o sr. identifica?

 Os últimos dias, segundo a palavra de Deus estão relacionados com mudanças muito rápidas, como liberdade excessiva, a gente vê, por exemplo: amoralidade, numa só geração o número de divórcios, homossexualismo, essa ideia de casar gays, todos são sinais do avanço na liberdade, liberdade sexual, liberdade em termos de pecado, falta de integridade, tudo isso é muito mais acentuado em nosso tempo. Enquanto isso progride nessa direção onde há maior liberdade eu acho que os últimos dias estão com certeza chegando ai…. é a maneira que o próprio Senhor descreveu a vinda dele, de que seria como nos dias de Noé, quando havia liberdade total.

 A secularização europeia estaria incluída como um sinal?

 Sem dúvida, falta de temor de Deus, a completa ausência de qualquer influência divina, bíblica sobre a vida normal, educação, por exemplo, o que é que se fala sobre Deus na educação? Não se fala nada. Excluído.

Inclusive, a educação, desde os primórdios da Igreja sempre foi um foco de pregação do evangelho, os monastérios foram os primeiros a criarem centros educativos, escolas, colégios e universidades. A igreja protestante tem abdicado um pouco dessa frente?

Tem dado para o mundo secular fazer isso porque é muito vantajoso para este mundo, têm cursos de administração, cursos de marketing, de tecnologia. Como nosso mundo está mudando rapidamente, cada vez mais se sente necessidade de curso, quando a Igreja fica por fora porque a igreja não está envolvida nessa tentativa de melhorar a vida a não ser pela doutrina da prosperidade, não é assim criando grandes escolas, centros de treinamento não.

O sr. está falando de mudanças rápidas. Com o advento da pós-modernidade, os economistas – eles mesmos se auto intitulam de teólogos do deus-mercado, eles tem conseguido influenciar o pensamento mundial em termos econômicos, em termos de globalização. Quais seriam os teólogos de fato que pregam a Palavra que têm conseguido influenciar o pensamento cristão atual que o sr. destacaria?

Antes a gente pensava em Billy Grahan por que ele foi uma figura mundial, reconhecida em todos os países que ele visitava com grandes multidões e tudo mais. Mas ele está caindo [saindo] da cena. Quem fica por aí, temos Alister McGrath, professor de teologia histórica em Oxford, é um dos nomes que mais se destaca, ele que, quando Dawkins escreveu aquele livro sobre ateísmo, ele que vai responder e já respondeu, o livro esta para sair em português também. Ele é a pessoa que eu acho que se destaca mais que qualquer outro….

E aqui no Brasil, em termo locais?

Aqui no Brasil temos pouca gente…. acabamos de receber a teologia sistemática de Franklin Ferreira publicado pela Vida Nova junto com Alan Myatt, que é americano, mais o livro é de grande envergadura, é um livro importante. Mas ainda estamos muito rasos nessa área, em termos de teologia, de pessoas que pesquisam, que procuram, e que lêem!

Eu li numa entrevista recente que o sr. concedeu que de um modo geral o sr. considera a liderança eclesiástica, a grosso modo, como sendo jovem e inexperiente. Faltaria para o Brasil que as igrejas investissem mais nos líderes?

Talvez que dêem mais oportunidade, mais acho só vem com o tempo, porque a gente chega a esse ponto quando vêm crises. O que é que produziu os grandes teólogos da reforma foi justamente a crise, a luta com aqueles , tinham que se defender, as pessoas estavam sendo mortas pela fé, nós temos que saber se vale a pena e como nós temos essa perseguição aqui, a gente acha mais interessante fazer a igreja crescer com entusiasmo com música rock e vamos pra frente.

Durante a segunda guerra mundial, dois dos maiores teólogos do século passado estiveram presentes, porém de lados opostos. De um lado, Dietrich Bonheffer, considerado um mártir cristão e enforcado pelo regime nazista e, de outro, Jurgen Moltmann, militar alemão que tornou-se prisioneiro de guerra e converteu-se nesse período. Deus ainda precisa de muitas diásporas ou, como o sr. tem dito, muitas perseguições, para causar despertamento no seu povo?

É bem possível. Eu não posso predizer, mas eu sei que a igreja segundo Efésios para receber o seu Senhor, seu noivo, como noiva, ela tem que ser uma noiva santa, sem mácula, irrepreensível e isso não vejo muito não.  Isso só pode acontecer, na minha opinião, através de perseguição, quando a Igreja realmente se torna perseguida, e para isso Deus permite que o anticristo apareça, portanto eu estou aguardando que a qualquer hora ele apareça.

 Para purificação dos santos…..

 Isso.

Falando sobre perfeição, o apóstolo Paulo disse que esse seria o vínculo da perfeição. O escritor de Hebreus enfatiza que o alimento sólido é para os perfeitos, aqueles que em razão do costume, estariam capacitados a discernir entre o bem e o mal. O bispo Tiago também diz que é perfeito aquele que não tropeça em palavra. Finalmente, o próprio Jesus ensinou que é possível sermos perfeitos se amarmos aos nossos inimigos. Diante de tantas referências, ainda escutamos em muitos púlpitos que perfeito somente é Jesus. Como o sr. vê essa situação? Afinal, é possível para o cristão atingir a perfeição?

Depende de como o irmão interpreta. A palavra perfeição no original significa pessoa madura, pessoa adulta, que não vai crescer mais, que chegou ao auge da sua vida, portanto quando pensamos dessa forma, claro que tem pessoas que chegam a ser adultos, como o texto de Hebreus e tem pessoas que ainda estão em fase de crescimento, de conhecimento porque como o texto mostra a ignorância é uma das razões de tomar decisões erradas e até pecaminosas. Portanto, na medida que  igreja realmente instrua seus membros eles podem chegar ao que a Bíblia chama, especialmente ao Antigo Testamento de justiça, são justos na terra. A gente vê o Salmo 1 um exemplo em que distingue entre os justos e os que são como a  palha, um homem que não tem princípios, que vive como qualquer mundano secular hoje, sem Deus, portanto perfeição se olharmos desse ponto de vista, de uma pessoa irrepreensível, pastor que tem que ser irrepreensível, isto é, uma pessoa que não tem nenhuma acusação válida, pode haver muita acusação inválida, mas válida não tem, é o que Deus está procurando. Agora, perfeição no sentido de que não peca mais também não, vide 1 Jo 1:8,9,10.

Há alguns anos, C. S. Lewis escreveu que os cristãos estavam elegendo a abnegação, isto é, a renúncia, como a maior das virtudes, em detrimento do dom do amor que ocupara esse espaço no século XIX. É possível encontrar um equilíbrio no agir cristão. Qual seria um distintivo do cristão atual?

 Sempre tem que ser segundo a própria palavra de Jesus, o amor para os irmãos. Em 1 Pe 2 nós somos regenerados obedecendo a verdade para amar os irmãos e desse modo o mundo saberá que nós somos discípulos de Jesus se nos amarmos uns aos outros. É o fruto do espírito, tem que nascer do espírito em amor e amor vem junto com as outras manifestações mas todas são de amor em Gálatas 5:22-23.

Um dos livros que o sr. escreveu é sobre um tema bastante delicado que fala sobre a disciplina na Igreja, normalmente ela é levada a cabo com muita dureza ou de maneira muito relapsa. Como o sr. encontraria um meio termo para que o líder ou o pastor pudesse trabalhar essa questão da disciplina na Igreja.

 Eu acredito que ele tem que seguir e imitar a Jesus. a disciplina de Jesus foi muito dura, em relação por exemplo, Ananias e Safira. O Espírito Santo foi muito duro, eles morreram, não tiveram nem chance de se arrepender. No caso de Pedro, que pecou muito mais gravemente do ponto de vista humano, pelo menos, Jesus o restaurou dentro de dias, ele estava restaurado e autorizado a pastorear suas ovelhas. Então a imitação de Jesus é buscar aquele meio termo tentando entender a sinceridade do arrependimento porque o verdadeiro arrependimento, como foi o caso de Pedro, é o caminho de volta enquanto no caso de uma pessoa que não se arrepende, não é o caminho de volta e só produz tristeza, só produz mais pecado no futuro. Portanto, é preciso saber analisar e avaliar a sinceridade do arrependimento. O irmão conheceu Caio Fábio, o que o irmão acha do arrependimento dele, você acha que ele se arrependeu?

Acho que ele se arrependeu mais continuou no pecado, a meu ver.

Exatamente, não é o arrependimento de que estamos falando.

 O verdadeiro arrependimento seria ter deixado a pessoa que causou aquele mal na sua família?

Mas ele não quer se sacrificar a esse ponto. Ele até me falou…. quer não…… ele achou que se os outros são tão ruins com ele então como ele vai mudar e tomar uma decisão como essa e ficar infeliz, porque por trás de tudo esta a felicidade. vida moderna: merece ser feliz

Inclusive na Igreja Primitiva e nas próprias cartas do apóstolo Paulo, nós vemos que não existia uma preocupação com o que as pessoas iriam pensar; existia o zelo pela santidade, pela prática da palavra e se havia necessidade de exortação, era exortado, assim também se havia necessidade de exclusão, de repreensão. Hoje em dia, com a questão dos direitos humanos muitos pastores se sentem intimidados porque os membros de repente podem processar, mas como fica a Palavra de Deus nessa situação?

 Nós temos que enfrentar como a igreja primitiva enfrentou, também não era legal ser cristão, era uma religião ilegal, portanto, temos que andar com muito cuidado.

 O sr. receberia o título de doutor em divindade?

 Eu já recebi, já me deram há uns anos atrás, um seminário da América, mas eu não faço muito caso disso.

 Que livros o sr. indicaria para os nossos leitores do Jornal O Farol, além da Bíblia que tem que ser livro de cabeceira?

 Como o ferro afia o ferro, de Howard e William Hendricks, é muito bom, Companheiros de Luta, de Stu Weber, também, são tanto livros, o livro de Alister McGrath, Paixão Pela Verdade, sobre o apego a verdade, muito importante, que ele mostra que as bases da nossa fé que são muito claras, é um livro bastante erudito, por que ele é um erudito. Talvez um dos melhores títulos que acaba de sair é de Nancy Pearson da CPAD, Verdade Absoluta, é muito bom. Nós começamos a perceber que estamos numa situação de conflito muito forte entre o que é verdade que a gente tem que crer e aquilo que a gente pode rasgar.

Para finalizar que palavra o sr. deixaria para o público que vai ler e ouvir esta entrevista?

Eu recomendaria uma palavra de perseverança. Aquele que perseverar até o fim esse será salvo. O problema é que uma teologia muito divulgada entre batistas e presbiterianos é que o crente não perde salvação, não perde. Então o crente pode viver uma vida bastante fora de padrões bíblicos e ainda esperar a salvação, mas a palavra de Deus é muito clara.que se o crente não abandona o pecado, se não se arrepende de verdade, não tem esperança na vida eterna, não importa se ele toma a decisão, se é batizado …. e  eu recomendaria por exemplo um versículo em romanos 8:13 a parte b “se, pelo espírito mortificardes a obras da carne, viverás mas, se não, se viverdes de acordo com a carne, morreram” e morrer lá é morrer espiritualmente. Então é uma palavra que parece que não está muito ……

 Em moda….

 Muito em moda [risos]

 Esvazia os templos….

 A gente percebe ….., como eu sou perfeito e ninguém é perfeito então eu posso viver com eu acho razoável e não há uma busca pela santificação, não há uma busca pelo Senhor, a gente mente, a gente vai roubando, adulterando, mas tudo bem por que Deus sabe como nós somos, essa idéia de tolerância muito forte é parte da vida moderna, crianças são criadas assim, tolerando. Quando nós éramos menores não era assim não, era lei, lei e graça tal como as leis do universo que não perdoam nenhum. Se a gente da um exagero na graça então pode esquecer e pular do prédio e acha que vai ficar tudo bem quando chegar lá embaixo por causa da graça.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *