Publicado em: Agosto/2010

por Rene Pereira Melo Vasconcellos


Bullying é um desvio de comportamento praticado por um elemento ou grupo de elementos com a intenção de intimidar, agredir, espalhar mentiras a fim de lançar má fama ou ridicularizar um colega que, no momento em questão, não apresenta em si mesmo, condições de se defender. Piadas, zombarias e rótulos ofensivos são práticas seculares e poderosas de manipulação, controle e repressão social porque aquilo que o ser humano mais teme na vida é sofrer o ataque do riso. A vítima é insultada, sistematicamente, no âmbito do público o que torna esse fenômeno particularmente tenebroso, em circunstância de pós modernidade, pois em função das novas tecnologias esse ataque ganha proporções infernais na forma de bullying digital ou cibernético. Detalhe: no bullying tradicional ou presencial a criança ou adolescente se sente protegida dentro de sua própria casa onde o ataque do opressor não lhe atinge; entretanto, no bullying digital o insulto e a infâmia estão estampados nas páginas da web sendo assim, a vítima não tem descanso sequer dentro do seu próprio quarto.

O medo tão humano de ser ridicularizado é um ponto fundamental dessa problemática que assume o seguinte contorno: o agressor investe nesse medo ancestral e incita terceiros a reforçar o ataque; a vítima recua indefesa e a plateia oscila entre uma participação ativa pró-ofensor e/ou um silencio conivente – muitas vezes por medo de ser a próxima vítima do açoite da língua, outras vezes para evitar o peso do braço forte do opressor sobre sua própria cabeça e na mais das vezes apenas para satisfazer os instintos bestiais próprios da multidão insaciável por novidades grotescas e não raro, vulgares.

Agora se você coloca esse ataque violento e insidioso numa faixa etária que oscila entre os 11 e 15 anos (onde o bullying ocorre com maior força) então o problema se amplifica sobremaneira com consequências imprevisíveis para a vítima que está em formação, em todos os aspectos de sua vida, de tal sorte que ela pode apresentar problemas de aprendizado, isolamento social, desestímulo quanto a uma carreira acadêmica futura e o pior… traumas psicológicos severos na vida da criança ou adolescente que se vê, diariamente, exposto a esse tipo de abuso, assédio moral e muitas vezes até a violência física cujo fim último é humilhar excluindo a vítima de um convívio social saudável. Não raro essa prática perniciosa e tão comum na sociedade ocidental pode degringolar em suicídio juvenil porque como já dissemos nessa idade a vítima, que está em formação, não dispõe de mecanismos eficazes para fazer frente a monstruosidade do ataque.

Sendo assim que tipo de pessoa seria o alvo preferencial do bullie (agressor)? A vítima é em geral um pouco mais jovem que o agressor e naquele momento se apresenta mais frágil física e psicologicamente vale ressaltar que no bullying digital nem sempre é assim. Ele pode apresentar alguma diferença do ponto de vista estético que destoa da maioria: usar óculos, ser baixinha ou ser alta, ser negro ou muito branco, ser gordo ou muito magro, ser mais bonita que a média das meninas do colégio; ou diferenças subjetivas: ser tímida ou ser muito arrojado para os padrões locais; ser o mais inteligente da sala etc, etc, etc. Não importa a característica física ou a qualidade subjetiva que está sendo detonada na vítima, o que é notório nesses casos é a mediocridade das forças opressivas em questão.

Se você tem algum tipo de curiosidade quanto as motivações do agressor, não perca seu tempo com hipóteses muito elaboradas; minha própria experiência ensina que o agressor é uma criatura com dificuldades emocionais severas problemas de autoestima, baixa afetividade; proveniente de famílias desestruturadas e com valores morais questionáveis; sedento de poder social, logo, obcecado por ascender no meio que está inserido; dotado de um complexo de inferioridade feroz e uma mentalidade primitiva cuja crença o impulsiona a diminuir o outro (física ou moralmente) na ilusão que obterá a aceitação e o sucesso social e pessoal que almeja. Vários estudos comprovam que o futuro dos bullies, em sua maioria absoluta, é sombrio e de contínuo eles tombam no caminho da criminalidade e delinquência.

Diante desse quadro lamentável o que podemos fazer para contrariar essa tendência violenta que ameaça comprometer o presente e as gerações futuras? O papel da escola é importante nesse processo: promovendo debates, seminários edificantes e exercendo um olhar atento que promova uma conscientização constante – reuniões esclarecedoras com os pais e encontros com grupos de alunos ajudam a evitar que o problema se enraíze. Contudo, o papel da família é fundamental. Como será possível a criança e ao jovem estabelecer relações corretas com seus pares se já faz tanto tempo que os valores familiares têm sido negligenciados dando largas a falta de compromisso, ao desrespeito e ao desamor? Qualquer iniciativa dentro desse contexto familiar corrompido parece inútil!

Finalmente, uma palavra para você que está vivenciando essa situação na sua escola ou trabalho: crie uma distância segura do agressor e de seus ataques (não responda diretamente aos insultos e provocações, isso só aumentaria a raiva e a excitação do inimigo contra você); por outro lado, não mantenha segredo da ofensa, não se intimide, lembre-se: você não tem motivo para se envergonhar, quem está, extremamente, doente emocionalmente é ele; é fundamental que você procure um adulto sensato e confiável para enfrentar o problema, essa ajuda proporcionará uma situação de confronto maior e mais poderosa do que os recursos que você dispõe; é indicado o encaminhamento do caso a outras instâncias e abertura de processo junto a justiça dos homens, mesmo no caso dos crimes digitais já existem delegacias especializadas que podem tomar as medidas cabíveis; não se desespere, procure ajuda psicológica e espiritual e você vencerá! Lembre-se: o que não te mata, te deixa mais forte!

Editora Sal Cultural - Coleção Grandes Temas da Teologia


Renê Pereira Melo Vasconcellos é psicóloga, doutora em Ciências Políticas e Sociologia pela Universidad Pontificia de Salamanca, na Espanha.

 

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