Da Redação


Desde que o falecido antropólogo americano David Graeber teorizou sobre o sentimento de inutilidade dos trabalhadores em seu livro Bullshit Jobs (2018), as pesquisas sobre o assunto aumentaram nos EUA e na Europa.

Recentemente, a Universidade de Zurique (UZH) publicou um estudo onde revela que muitos funcionários não veem utilidade social em seus empregos, principalmente nos setores de finanças, vendas e administração. Segundo Walo, sociólogo da UZH que conduziu a pesquisa, a parcela de trabalhadores que consideram seus empregos socialmente inúteis é maior no setor privado do que nos setores público e sem fins lucrativos.

As perguntas se concentravam especialmente na sensação de “contribuição positiva para a sociedade” ou “trabalho útil”. Ele descobriu que 19% dos trabalhadores de todas as ocupações respondiam “nunca” ou “raramente”.

Em seguida, o pesquisador comparou os dados de funcionários com condições de trabalho semelhantes e descobriu que havia, de fato, diferenças atribuíveis ao setor ocupacional. Os trabalhadores dos setores financeiro e de vendas deram as respostas mais negativas.

Entretanto, o estudo de Walo também confirma que outros fatores podem influenciar as percepções dos funcionários sobre seu próprio trabalho, incluindo alienação, condições de trabalho desfavoráveis e interação social.

No livro Bullshit Jobs, o antropólogo David Graeber postulou a existência de empregos sem sentido e analisou seus danos sociais. Ele considera que mais da metade do trabalho social é inútil e se torna psicologicamente destrutivo quando emparelhado com um ética de trabalho que associa o trabalho a autoestima.

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Embora esses empregos possam oferecer boa remuneração e amplo tempo livre, Graeber sustenta que a inutilidade do trabalho irrita sua humanidade e cria uma “profunda violência psicológica”. Ele argumenta que a associação do trabalho com o sofrimento virtuoso é recente na história da humanidade e propõe sindicatos e renda básica universal como uma solução potencial.

Graeber descreve cinco tipos de empregos sem sentido, nos quais os trabalhadores fingem que seu papel não é tão inútil ou prejudicial quanto sabem: lacaios, capangas, tapa-buracos, operadores de caixa e capatazes.

  • lacaios, que servem para que seus superiores se sintam importantes, por exemplo, recepcionistas, auxiliares administrativos, porteiros, recepcionistas de lojas;
  • capangas, que agem para prejudicar ou enganar outras pessoas em nome de seu empregador, ou para impedir que outros capangas o façam, por exemplo, lobistas, advogados corporativos, operadores de telemarketing, especialistas em relações públicas;
  • tapa-buracos, que consertam temporariamente problemas que poderiam ser consertados permanentemente, por exemplo, programadores que consertam códigos de má qualidade, funcionários de balcões de companhias aéreas que acalmam passageiros cujas malas não chegam;
  • operadores de caixa, que criam a aparência de que algo útil está sendo feito quando não está, por exemplo, administradores de pesquisas, jornalistas de revistas, diretores de conformidade corporativa;
  • capatazes, que criam trabalho extra para quem não precisa, por exemplo, gerentes, profissionais de liderança.

 

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